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A força do protagonismo da mulher na arte e os desafios de ser artista no Brasil
Confira o depoimento de mulheres artistas que fazem do palco seu lugar de transformação
06/03/20 às 12h45

Foto Espetáculo Erêndira / Cia CLE - Companhia Circo Lúdico Experimental. Crédito: Luiz Alves

 

 

Historicamente, as mulheres sempre tiveram um papel central na arte, mas foram invisibilizadas por um mundo dominado por homens. Agora, com mais aurtonomia e liberdade, elas têm ocupado cada vez mais espaço no teatro, circo, cinema, na música, literatura ou dança, mostrando todas as suas múltiplas potencialidades. Convidamos algumas mulheres artistas que integram o ciclo programático ''Mulheres em Cena", durante o mês de março no Centro Dragão do Mar, para contar um pouco de suas histórias, inspirações e desafios de se fazer arte e cultura no Brasil.

 

Jéssica Teixeira, atriz, diretora, iluminadora e produtora de teatro

 

 

Ingressou na primeira turma do curso de Teatro - Licenciatura da Universidade Federal do Ceará, em 2010, graduando-se em janeiro de 2014. Entre 2001 e 2009, conheceu admiráveis professores e diretores que foram cruciais para a sua escolha profissional. Fernando Leão foi um desses exemplos de artista-pesquisador-docente que a inspirou, o qual dirigiu os espetáculos "O Morro do Ouro" e "Diluve de Rima" - adaptação de cordéis de Patativa do Assaré - por ela encenados.

Atualmente, Jéssica desenvolve a pesquisa sobre "Um corpo em estado de demolição" com o grupo Comedores de Abacaxi S/A, apoiados pelo Laboratório de Pesquisa Teatral do Porto Iracema das Artes e também pelo Programa de Pós Graduação em Artes pela UFC, sob orientação de Wellington de Oliveira Jr. 


"Comecei a fazer teatro aos 7 anos e a arte foi algo primordial na minha vida é onde me sinto até hoje mais corajosa. Não consigo desenvolver um diálogo na rua como acontece quando estou no palco, é onde coloco para fora tudo que sinto e me atravessa. Não tenho outra saída a não ser fazer meus espetáculos e dar visibilidade a esse corpo de uma mulher com deficiência que está num mundo que precisa ser desconstruído. É no teatro onde consigo lutar e transbordar a minha luta, e o que acho pertinente para um todo. Para mim, a arte transforma". 


 

 

Rayanne Fortes, cantora, compositora e instrumentista

 

 

Aprendeu a tocar violão clássico com apenas 10 anos de idade, sendo a mais nova intérprete e compositora de samba da sua região. Destaca-se por sua voz suave e dominação do violão. No palco, esbanja carisma e simpatia, conquistando seu público com um repertório brasileiríssimo. Já dividiu palco com grandes artistas da música brasileira, como Waldonys e Marcos Lessa. Em fevereiro de 2020, lançou o primeiro single de uma série de quatro lançamentos programados na construção do álbum "Ela primavera", em parceria com a Artista Plástica Nyna Nobrega, que criou as 4 pinturas das respectivas músicas.


 

"O fato de ser mulher sempre foi algo difícil e é o que a gente está desconstruindo. Tenho como inspiração a maestrina do Brasil Chiquinha Gonzaga, que foi a primeira compositora de marcha de carnaval, com "Ó abre alas", e que batalhou para ter seu nome em suas composições, e é por essas mulheres que lutaram por esses direitos artísticos que continuamos firmes na nossa arte. Somos absurdamente fortes e sou só orgulho de fazer parte dessa tribo de artistas com histórias incríveis, eu respiro isso". 

 

SIlvia Moura, bailarina, coreógrafa e atriz

 

 

Artista das conexões possíveis, entre o corpo e o pensamento. Comunica-se através das mais diversas mídias, utilizando a dança, a performance, e a palavra como principais pontes para essa viagem, entre sua vida e o olhar do público Relação essa que permeia sua "dança-desabafo", tornando-a uma das artistas mais emblemáticas no que diz respeito a educação, produção e difusão da dança no Ceará.

 

"A mulher tem uma forma diferente dos homens de estar no mundo e essa potência feminina tem um cunho de cura e transformação e isso talvez ajude a tornar o mundo melhor.  O que nos faz vê a beleza da vida é a cultura e a arte. E mesmo em tempos tão duros em que a arte não é valorizada, é através dela que escapamos da dureza dos fatos e da perseguição ao que é belo, então, é uma ferramenta muito transformadora e fundamental pra gente viver e respirar".

 

Sâmia Bittencourt, atriz, bailarina e palhaça

 

Graduada pelo curso superior em Artes Cênicas do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará - Cefet (atual IFCE). Com 19 anos de experiência em cena, já atuou em mais de 20 espetáculos. Tornou-se responsável pelo trabalho corporal da Companhia de Brincantes Boca Rica (1995), com direção de Oswald Barroso, por oito anos. É intérprete-criadora na Companhia da Arte Andanças, dirigida por Andréa Bardawil. A partir de sua veia cômica, já ganhou quatro prêmios com sua palhaça Nada, no espetáculo "Nada, Nenhum e Ninguém" (1997). Em 2000, estudou na Escola Nacional de Circo. Atualmente, dirige a Cia. Cle - Circo Lúdico Experimental, com pesquisa na arte circense e no teatro físico.


 

"A cultura é o resultado de um olhar social e quando colocamos a mulher no protagonismo, isso dá a ela uma força muito grande, de estar ocupando um lugar que durante um tempo foi de um homem. E tanto as mulheres como os homens não existem sem arte e a cultura. Faço arte porque é a minha habilidade, minha profissão, escolhi o circo porque é o que sei fazer, me dá prazer, é uma forma de comunicação, denúncia e politicamente é a maneira de estar inscrita nessa sociedade, é por isso que faço arte."   

 

 

Maria Vitória, atriz e professora 

 

 

Maria Vitória se dedica ao fazer artístico desde a década de 1990. Seus últimos trabalhos foram: "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" (peça de teatro e dança na qual atua, dirige e assina o texto que foi premiado no Edital de Dramaturgia Feminina da Secretaria de Cultura de Fortaleza); "Frei Tito - Vida , Paixão e Morte" (espetáculo teatral no qual participa como atriz, através do qual recebeu o Prêmio Ceará em Cena de melhor atriz em 2014/2015); "Asja Lacis já não me escreve" (peça teatral na qual assina o texto e a direção); "Além, Aquém Daqui" (direção e orientação dramatúrgica a convite da Escola Porto Iracema das Artes/2017). Durante mais de duas décadas, Maria Vitória, vem se dedicando de forma ininterrupta ao fazer artístico. Sempre em uma atitude de resistência de ter a arte como única atividade profissional.

 

"Em qualquer lugar do mundo, fazer arte é vital e, muitas vezes, a maioria das pessoas não percebe isso e tem uma visão muito equivocada sobre o fazer artístico. Como a mulher sempre tem que provar suas capacidades, em decorrência do machismo, ela ganha muita força e energia pra fazer uma arte forte e potente. E ser artista no Brasil é uma forma de lutar e ajudar na construção de uma consciência coletiva. Se a gente não vivenciar a arte, o país vai sucumbir."


 

 


 

 

 

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