A vida como obra de arte pede passagem e entra, vigorosa, no Museu de Arte Contemporânea - MAC-CE do Centro Dragão do Mar. A partir do dia 1º de fevereiro, com a abertura da exposição "O que tem em cima do Morro?", o público vai ao encontro de objetos, fotografias e vídeos que representam uma síntese de pesquisas realizadas em torno das histórias e memórias dos moradores do Arraial Moura Brasil, bairro da periferia de Fortaleza historicamente estigmatizado, mas relido pela curadoria como patrimônio cultural e nicho de lutas sociais, resistência e inventividade.
Com curadoria de Débora Soares e Ismael Gutemberg, fundadores do coletivo NUPAC - Núcleo de Patrimônio Cultural do Moura Brasil, a "colagem de achados" coletados de casa em casa e reconfigurados a partir de relatos dos próprios moradores do bairro é um acervo vivo de imagens e narrativas que, entrelaçadas, contam sobre as mais diversas formas de sociabilidade e invenção experimentadas entretempos naquele território.
"A mostra é a conclusão de um projeto aprovado através do Edital Patrimônio Vivo, da Secult,envolvendo 10 jovens pesquisadores bolsistas da comunidade. Durante três meses, partindo de um curso de Museologia Social, ensinamos e aprendemos muito sobre patrimônio, memória e
comunidade. Junto aos moradores, que se envolveram em todo o processo criativo, formulamos a pergunta-título: "o que tem em cima do Morro"? São muitas respostas a dar. E vocês vão ver que no Morro tem muito mais do que o que o senso comum e a mídia policialesca costumam mostrar.
Há imaginação, criatividade e solidariedade. Isso é arte contemporânea", defende Ismael, cria do Moura Brasil e egresso do curso Museu e Cidadania Cultural realizado no Centro Dragão do Mar.
A valorização das memórias e narrativas dos moradores do Moura Brasil, um dos pilares da Museologia Social, trazem à tona artes e artimanhas ligadas a fazeres e saberes locais. Reparem: no rol de artistas expositores, Francisco Finim é o senhor magro que inventou uma balsa portátil, feita de isopor e saco de farinha de trigo, para poder continuar sobrevivendo da pesca de tarrafa no tempo em que os mandatários da construção do Hotel Marina Park se achavam no direito de afundar as pequenas embarcações dos pescadores do Moura Brasil, afugentando e boicotando
aqueles que consideravam indesejáveis.
Na sala ao lado, Paulinho da Hora se encarrega de recontar a história da avó Francisca da Hora, guardiã, por mais de 50 anos, do chafariz de um Moura Brasil desabastecido e abandonado pelo poder público de então. Há ainda a menção artística e o reconhecimento público feito à figura de
dona Anita, parteira-símbolo do Moura Brasil, com mais de 2.500 partos realizados com sucesso.
Na abertura da mostra, outro destaque é para a turma do Bloco do Mamão, que comemora 50 anos de folia carnavalesca e vai puxar um cortejo por dentro do Centro Dragão do Mar até chegar ao MAC-CE, onde fantasias e fotografias trazem à tona a trajetória dos brincantes que hoje são
bicampeões do carnaval de Fortaleza, mas passaram anos alijados do carnaval oficial, brincando às margens da avenida, como Os Sujos.
Na abertura da exposição, também são os jovens bolsistas do Moura Brasil que mediam o passeio e apontam caminhos para se chegar a possíveis respostas diante da provocação seminal sobre "o que tem em cima do Morro". "O MAC-CE, que é vizinho de bairros como o Moura Brasil, foi
provocado a receber essa mostra para também refletir sobre como essas vizinhanças se enxergam.
E a gente topou na hora. Primeiro, por ser uma política de responsabilidade social do Museu absorver, para além da curadoria interna, propostas de agentes culturais que atuam nos diversos territórios da cidade. E segundo por entendermos que o Museu precisa se abrir para ser entendido
também. O MAC-CE não pode ser o lugar do distanciamento - e sim do pertencimento", observa a curadora do MAC-CE, Cecília Bedê.
Artistas:
Bloco A Turma do Mamão
Filtro de papel
Dr. Cornélio
Maya Rodrigues
Paulo Hora
Thyago Nunes
Pesquisadores:
Ana Clara Holanda
Carlos Eduardo
Dani Feitosa
Deísa Oliveira
Gabriela Silva
Mailiane Araújo
Nicolly Kate
Rayana Meneses Freitas
Samiria Santos
Abertura da Exposição "O que tem em cima do Morro?", com curadoria de Débora Soares e Ismael
Gutemberg + Cortejo com o Bloco A Turma do Mamão
Data: 01/02.
Horários:
cortejo: 14h30
abertura da exposição: 15h - 19h
Local: MAC - Salas expositivas
Classificação Etária: Livre
Aberto ao público